sexta-feira, 6 de abril de 2012

império

a minha capacidade de sonhar sempre foi infindável. a de acreditar ainda é maior. a verdade é que nunca deixei de acreditar de nós, de nos sonhar, sempre pensando num futuro risonho que tão cuidadosamente desenhei para nós. ao contrário do que possas imaginar, não nos desenhei velhinhos e lindos, ou juntos a ver um luar ao pé do mar (não é que não ache isso de certa forma romântico e bonito), desenhei-nos apenas de mãos dadas, a olhar um para o outro e a enfrentar os nossos tão grandes monstros que eu sei que existem. imaginei-nos a nunca desistir um do outro. ou talvez esteja enganada, e apenas me desenhei a mim, comandante de um blindado, de espingarda na mão a enfrentar quem tentasse roubar-te de mim, fosse o meu adversário o tempo, ou os teus monstros.
é verdade que já não te tenho há muito tempo. ninguém sabe disso melhor que eu. mas a verdade é que também ninguém o negou mais que eu. tentei perpetuar-te, ligar-te a mim, e não penses que isto foi por mal. foi apenas porque a ideia de me ver sem ti foi completamente aterradora. o medo de não sobreviver ao embate fez de mim um pouco mais fraca e frágil, e talvez tenha sido esse medo que não me deixou viver sem ti.
a minha coroa já caiu. sei que já não reino em ti. sei bem que tenho muito ainda para aprender neste meu lugar de princesa sem reino. sei também que os trilhos do meu reinado em ti já estão gastos, quase desaparecidos, ficando apenas aquele nó na garganta que sinto quando penso em ti e quando te nego todos os dias. é esse tal nó que fica que desperta em mim o resto do teu império em mim, que desperta em mim a saudade dos teus olhos castanhos todos os dias que me deito na almofada. a culpa é toda deste nó, que não sei se é saudade ou apenas recordação. é apenas um engolir vagaroso e custoso que me entala as palavras.
há mil e um reinados para nós, para ti e para mim.
voa.

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