quarta-feira, 15 de agosto de 2012

falta

há quem diga que só sentimos a falta das pessoas quando elas deixam de estar presentes na nossa vida. mas a verdade é que de ti eu sinto muito mais que falta... nunca tinha lidado com a perda de ninguém como fui obrigada a lidar com a tua, e a verdade é que numa parte de mim tu ainda habitas, e por isso eu ache que tu nunca te irás embora completamente.
acredito que só o teu corpo foi embora, que a tua alma, essa vagueia por aí a cuidar de mim, a amparar as minhas quedas. bem sei que tivemos algumas desavenças, que nem sempre foi tudo fácil entre nós, mas a verdade é que nunca pensei que, olhar para a cadeira branca em que te sentavas vazia me custasse tanto. foi difícil não poder partilhar contigo este ano que passou desde que tu partiste. foi difícil por tudo aquilo que tu possas imaginar, quer pelos bons momentos, quer pelos maus.
não te guardo qualquer tipo de mágoa ou ressentimento. tiveste um papel muito importante naquilo que sou hoje. ajudaste a construir-me, a saber o que era melhor para mim, e a errar. ainda me vejo a chegar da escola a tua casa e a ter em cima da mesa um prarto enorme com batatas fritas e salsichas e ovo estrelado. tu sabias que eu adorava batatas fritas. ou então aquele teu arroz de bacalhau, que fazias no caçoilo de barro, que eu estava sempre a pedir. duvido que alguma vez o volte a comer com aquele sabor... lembraste quando ia para a tua casa nova limpar e fazer a àrvore de natal? ensinaste-me tanto que é-me difícil conseguir expressar-me para ti... ainda me lembro de brincar na eira da casa velha e pedires-me para ficar na marquise enquanto tomavas banho para eu chamar alguém se acontecesse alguma coisa. ficavas espantada da forma como eu conseguia encavalitar a loiça no fim de a lavar. os teus elogios eram os melhores para mim, talvez por eu saber que eram os mais sinceros. tenho tantas saudades tuas. sei que posso não demonstrá-lo, mas tu já sabes como eu sou. prefiro esconder este meu lado de todos.
vou continuar a recordar-te, porque assim sei que te mantenho viva em mim. foste a minha avó, em todo o significado que a palavra carrega. e eu vou continuar a recordar-te, sentada com o teu cabelo grisalho a beber café e a comer peixe frito.
continua a tomar conta de mim, nunca deixes de o fazer.