domingo, 10 de junho de 2012

pele

o problema está em cair e não na queda. o que nos dói na pele e nos músculos é o raspar dos joelhos no chão, aquele queimar que parece que até fervilha quando o alcatrão encontra a nossa pele. o que dói é bater com os ossos, que naquele segundo excruciante, julgamos partidos. o problema está em cair e não na queda. quando dói, dói se for de cabeça, dói se nos defendermos com as mãos, pode até doer menos, a dor pode até ser diferente, mas dói. e dói, e dói.
com o coração é assim. não interessa muito quantas vezes este já caiu, dói sempre. há sempre aquele segundo em que o nosso mundo pára e é como se não existisse nada mais que essa dor. há sempre o choro que surge, mesmo quando abafá-lo parece ser a solução mais viável e aquela que gostaríamos de adoptar.
por todo o efeito benéfico que a queda possa ter (e sim estou a referir-me aquela lenga lenga que as pessoas dizem que é com as quedas que se aprende), esta vai doer sempre. afinal, aquela pele daquele joelho, nunca mais vai voltar a ser a mesma. é verdade que nasce outra por cima, outras até em forma de cicatriz, traduzindo uma certa fortaleza em relação à que foi embora, mas o que fazer aquele bocadinho de pele que foi rasgado? ele nunca mais vai voltar para nós. percebemos que o que passou está perdido, por muito que fique a recordação, e por muito que o futuro se adivinhe mais promissor. e é aí que a pele renasce, pronta para uma nova queda.

(para Susana Godinho)


sábado, 9 de junho de 2012

meu rei

"hoje faço-te uma vénia, sim a ti meu rei! uma vénia por teres despertado o melhor que há em mim. uma vénia por cada beijo que sonho que me das! anda, levanta-me e abraça-me que estou aos teus pés, rendida aos teus olhos mas a ansiar o calor dos teus braços! beija-me, devagar, lentamente, com e sem língua. aperta-me nos teus braços e despe-me de preconceitos. quebra este gelo que está em nós, incendeia-me os poros. atende ao meu suplício e coloca-me tu mesmo a coroa. faz de mim a tua rainha."

e no dia em que eu menos te esperava tu apareceste. partis-te a bússola, descontrolas-te o relógio e deixaste-me assim. só te peço que não vás...